quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Um misterioso elefante no coração de Minas


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Mestre de obras responsável pela criação de minizoológico pré-histórico de alvenaria vira atração na terra do escritor Guimarães Rosa ao construir moradia em formato inusitado

Trabalhador e muito boa prosa, o mestre de obras Stamar de Azevedo Júnior, de 52 anos, também é artista de mão cheia. A especialidade dele são esculturas em cimento. Suas obras, entre elas uma preguiça gigante e um dinossauro, enfeitam praças da pacata cidade da Região Central na qual nasceu Guimarães Rosa (1908-1967), autor de Sagarana e Grande sertão: Veredas. Mas nenhuma obra de Tazico, como o homem franzino é conhecido por aquelas bandas, chama tanta atenção quanto o imenso elefante que ganha forma num quarteirão da Rua São José, uma das principais de Cordisburgo.

Não é uma escultura qualquer. “Na verdade, é um imóvel em forma de elefante, que deve ficar pronto em março de 2012. Comecei a construí-lo no fim de 2008, com intenção de morar nele, mas muitos visitantes vêm me perguntando se posso alugar. Acho que vou transformá-lo numa pousada. Terá apenas um quarto, que será na cabeça, onde os olhos servem de janelas. Na parte de trás, será o banheiro. Haverá ainda uma cozinha e sala. A obra tem 8 metros e meio de altura e 13,8 metros de comprimento. Gastei, até agora, aproximadamente 130 sacos de cimento e dois caminhões de areia”, detalha. Ele não esconde o orgulho quando fala de sua última criação, que já se transformou num dos pontos turísticos da cidade, a 85 quilômetros de Belo Horizonte. Pudera: como o paquiderme está no caminho para a Gruta de Maquiné, principal cartão-postal do lugar, com cerca de 10 mil habitantes, os turistas que passam pelo local não resistem à curiosa imagem e muitos sacam suas máquinas fotográficas para registrá-la. Aqueles que têm tempo para um dedo de prosa com Tazico, pai de cinco filhos e avô de duas crianças, ficam sabendo que a futura moradia foi batizada de Lakshmi, homenagem à deusa da abundância e da prosperidade no hinduísmo. “Trabalho na casa nos fins de semana ou nas folgas e conto com a ajuda de apenas uma pessoa. Também usei gesso e fibra, que formam o marfim da escultura. Na boca, coloquei grama sintética. Para dar mais destaque ao elefante, este barracão bem embaixo dele vai ser derrubado até a próxima semana”, explica.

Alguns moradores de Cordisburgo acreditam que Tazico se graduou em arquitetura. O artista acha graça. “Estudei só até a quinta série ginasial (atual ensino fundamental). Porém, garanto que sou mestre de obras dos bons. Exerço o ofício desde os 14 anos. Não é fácil, mas preciso me manter. Aliás, preciso dizer que o fazendeiro Alberto Ramos e minha mãe me ajudam financeiramente na obra. Se não fossem eles...”, diz o homem, que divide sua arte com a árdua tarefa da construção civil. O dom de criar animais com cimento, fibra e gesso começou a aflorar em 2000, quando a prefeitura da cidade encomendou ao mestre de obras um “minizoológico pré-histórico”, em alvenaria, para a arborizada Praça Otacílio Negrão de Lima. Meses depois, “nasceram” um tigre dente de sabre, uma preguiça gigante, um mamute e um enorme tatu. O espaço foi batizado de Zoológico de Pedra Peter Lund. O dinamarquês Lund (1801-1880) é personagem de um capítulo especial na história no Brasil. Foi ele quem comandou as primeiras expedições a dezenas de grutas na região de Cordisburgo e Lagoa Santa. Seu pioneirismo e suas descobertas lhe garantiram lugar na história como o pai da paleontologia brasileira, que entre outras explorou a Gruta de Maquiné. Hoje, o local é o principal ponto turístico de Cordisburgo, que também tem entre suas atrações o Museu Casa Guimarães Rosa, onde nasceu o escritor, hoje transformado em centro de referência de sua vida e obra. Expectativa “Quem sabe algum dia essas esculturas também sejam tão valorizadas quanto os outros atrativos da cidade?”, deseja Tazico, enquanto cumprimenta uma fã. Trata-se da recepcionista Iara Laíse Moreira, de 21. “As obras dele são maravilhosas. Podem ajudar a atrair mais turistas para cá”, elogia a amiga. Tazico agradece as palavras com a mão no coração, palavra que compõe o nome do município que acolhe sua obra: cordis, em latim, significa coração, e burgo, em alemão, vila ou cidade, dando origem à “cidade do coração”.

Origem de achados do naturalista europeu Peter Lund, que por sua vez inspiraram as primeiras imagens de Stamar de Azevedo Júnior, a Gruta de Maquiné, em Cordisburgo, foi descoberta em 1825 pelo fazendeiro Joaquim Maria Maquiné, na época proprietário das terras. Considerada o berço da paleontologia brasileira, foi explorada cientificamente por Lund em 1834. Tem sete salões explorados, em um total de 650 metros lineares, com desnível de apenas 18 metros. Estruturas como iluminação e passarelas possibilitam aos visitantes desfrutar com segurança das belezas esculpidas pela natureza durante milhares de anos. Todo o percurso é acompanhado por um guia local.

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