sexta-feira, 19 de março de 2010

Obra literária de Chico Xavier abrange diversos gêneros



Médium psicografou mais de 400 livros, que já venderam mais de 50 milhões de exemplares ao redor do mundo





É difícil mensurar o legado deixado por Chico Xavier para a religião espírita e para seus seguidores, mas uma forma de avaliar sua importância é através da vasta obra literária deixada por ele. Ao longo da vida, o médium psicografou mais de 400 livros, mas atribuiu a autoria de todos aos espíritos que se comunicavam com ele. Por essa razão, Chico nunca usufruiu do dinheiro da venda de seus livros.







Cada espírito que se comunicava com Chico Xavier tinha um estilo e uma prosa particulares, de forma que, em sua extensa obra literária, é possível encontrar gêneros distintos. Poesia, romance, auto-ajuda, crônica e reportagem foram alguns dos gêneros usados por Chico para expressar aquilo que os espíritos lhe contavam.





Por essa razão, é impossível enquadrar a obra de Chico Xavier em um estilo, gênero ou tendência literária. Em comum, os livros têm os valores espíritas e cristãos e a orientação doutrinária como temas sempre presentes, de forma mais ou menos explícita, dependendo de cada autor. Mas a forma como essas temáticas aparecem é bastante heterogênea: enquanto a escrita de Humberto de Campos possui pitadas de humor e sátira, o texto de André Luiz é mais descritivo, os romances de Emmanuel se aproximam da escola romântica e os textos de Neio Lúcio têm o didatismo necessário aos livros voltados para as crianças.





Chico Xavier sempre teve uma produção prolífica e diversificada, publicando vários livros por ano, mas a fatia mais importante e popular da obra do médium está concentrada no início de sua produção, até a década de 40. No artigo "Chico Xavier e a cultura Brasileira", publicado em 2001, o professor Bernardo Lewgoy, do departamento de Antropologia da UFRGS afirma que ''tratava-se de uma fase em que se iniciavam as atividades da editora da FEB [Federação Espírita Brsaileira] e a caudalosa produção de Chico insere-se perfeitamente no projeto de uma promoção mais agressiva do espiritismo através do livro’’.





Ainda de acordo com o artigo, essa fase é sucedida pela publicação de diversos livros de mensagens a partir dos anos 60, coletâneas de mensagens curtas para reflexão e meditação dos leitores. Já nos anos 70, a linguagem dos livros se modifica, tornando-se mais simples e concisa. Essa linguagem irá influenciar os livros espíritas publicados hoje em dia:






"A mudança na orientação editorial em indicará um privilégio da vertente mais popularizante em suas psicografias. Desse modo, pavimentava-se o caminho para a modernização da linguagem dos textos espíritas, em direção ao estilo que aparecerá nos livros assinados, por exemplo, pelas médiuns Zibia Gasparetto e Vera Lúcia de Carvalho".





A polêmica poesia






A poesia foi o gênero que marcou a primeira incursão literária de Chico Xavier. Em 1934, ele lançou seu primeiro livro, Parnaso além-túmulo, uma coletânea de poemas atribuída a nove autores diferentes, muitos deles poetas proeminentes, como Castro Alves, Olavo Bilac, e Augusto dos Anjos.





Inicialmente, a publicação desta obra causou mais repercussão pelo fato de ser uma obra mediúnica do que pelo seu conteúdo, pois até então a maioria dos brasileiros era estranha à prática da psicografia. Muitos questionaram a autenticidade da autoria e procuraram encontrar ou rejeitar semelhanças entre os traços de estilo presentes nos textos dos poetas escritos em vida e aqueles escritos pelas mãos de Chico Xavier.





Até hoje o assunto é discutido tanto dentro quanto fora dos círculos espíritas. A mestre em comunicação Ângela Maria Lignani recomenda cautela ao se comparar os traços dos autores antes e depois de sua morte, pois mesmo que o estilo se mantenha, existe uma diferenciação no conteúdo abordado pelos autores:





"Você tem que separar as coisas, o estilo e o conteúdo. Você tem o Augusto dos Anjos que fala do universo com aquela angústia existencial e você têm um Augusto dos Anjos espírito, que está em outra condição. Embora faça uso de um mesmo vocabulário, ele fala de uma outra perspectiva. Quando você lê o Augusto dos Anjos daqui, angustiado, é diferente do ponto de vista do Augusto do lado de lá."





Essa afirmação é corroborada na dissertação ''A poesia transcendente de Parnaso de além-túmulo'', defendida por Alexandre Caroli na Unicamp. Ao analisar os poemas de Parnaso, ele identifica que muitas vezes há um deslocamento dos temas tratados nos poemas escritos em vida e nos poemas mediúnicos. No entanto, as semelhanças encontradas nos traços de estilo são várias e inegáveis. Na maior seção do livro, atribuída a Augusto dos Anjos, Caroli estuda alguns tópicos formais, tais como a rima, a aliteração e a estrofação, e chega à seguinte conclusão:





''Os resultados obtidos, dada a amplitude desses tópicos formais, demonstram que o autor dos poemas mediúnicos possui um profundo conhecimento das particularidades de composição de Augusto dos Anjos.''





Ele descarta, assim, as denúncias de imitação e de pastiche, surgidas contra Chico Xavier diante da publicação do livro.



O Romance



Entre os diversos gêneros explorados por Chico Xavier, pode-se destacar o romance como um dos mais importantes, principalmente aqueles ditados por Emmanuel, o mentor espiritual de Chico. Sob a orientação de Emmanuel, Chico psicografou cinco romances que são essenciais em sua obra: Há 2.000 anos, 50 anos depois, Renúncia, Paulo e Estevão e Ave Cristo, que falam sobre o nascimento e a ascensão do Cristianismo. Ângela Maria Lignani, que defendeu uma dissertação na UFMG sobre a obra de Emmanuel, identifica as características principais dos romances ditados por ele:





''Nestes livros, Emmanuel vai seguir uma corrente que seria a do romantismo. Há uma sutileza da linguagem, as coisas apenas sugeridas, uma linguagem refinada, seria um texto que se atrelaria a escola romântica. E na linguagem, dá pra perceber que ele é objetivo.'',





Os romances de Emmanuel estão entre as obras mais populares de Chico Xavier, lidas não só pelos espíritas, afirma Marival:





''As pessoas lêem os romances de Emmanuel independente de ser espíritas ou não, porque o seu estilo é romanceado, muito gostoso de ler, nos remete claramente àquela época. Mas como o preconceito é grande, muita gente lê, mas poucos lêem de peito aberto", afirma.





Ciência espírita





Apesar da abrangência de títulos e estilos literários encontrados na obra de Chico Xavier, é inegável que os livros eminentemente doutrinários estão entre os mais importantes de sua obra. Neste campo, uma entidade essencial é o espírito André Luiz, responsável pelo livro de maior tiragem e sucesso de Chico Xavier, Nosso Lar, publicado em 1943.



Neste livro, André Luiz narra sua experiência pós-morte e descreve a vida no plano espiritual. Ao contrário dos romances mais famosos de Emmanuel, que tinham um teor histórico, Nosso Lar é um romance predominantemente doutrinário, em que cada capítulo é sucedido por uma lição ou ensinamento espírita.



Apesar de Nosso Lar ser classificado como um romance, os escritos de André Luiz são caracterizados como científicos, sociológicos e até mesmo jornalísticos. A vertente ''científica'' é mais notada em dois livros específicos, Evolução em Dois Mundos e Mecanismos da Mediunidade, que trabalham com conceitos da Física e da Química, como o eletromagnetismo e a radioatividade.


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