segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Tiradentes - Cinema em transformação

Artistas e profissionais do meio celebram conquistas da produção nacional, obtidas graças à crescente mobilização, articulação e organização











O velho lema da união que faz a força tem sentido também para a cultura. Um dos setores que melhor compreende a dimensão do dito popular, o audiovisual começa o ano comemorando conquistas importantes, que contemplam atores, produtores, cineastas e realizadores de todo o país. Graças à capacidade de articulação, organizações e coletivos conseguem assegurar melhores condições para o desenvolvimento do cinema nacional, que ainda enfrenta dilema antigo, da busca por identidade, mas que, sem dúvidas, revela melhorias significativas de qualidade estética, conteúdo, capacidade de distribuição e mobilização. Com espectadores cada vez mais numerosos e exigentes, o setor se organiza para atender às expectativas e continuar surpreendendo, de forma positiva, plateia cativa, heterogênea e interessada no que a sétima arte tem a dizer no Brasil.



“Nosso cinema está em constante transformação, buscando linguagem própria, formas mais eficientes de distribuição, discutindo espaço, formato, produção. De certa forma, essas questões são as mesmas de sempre, mas, com certeza, avançamos no sentido da qualidade”, afirma Lázaro Ramos. O ator, protagonista do emblemático Madame Satã, atuou em outros sucessos como O homem que copiava, Carandiru e Ó pai ó, é um dos mais aclamados atores negros de sua geração – no cinema e na teledramaturgia – e se prepara para exibir a quinta temporada do programa Espelho, no Canal Brasil. Artista convidado da 13ª Mostra de Cinema de Tiradentes, o ator baiano atribui ao poder de articulação boa parte das conquistas do setor. “Hoje temos mais salas de exibição, mesmo que elas ainda sejam insuficientes, e projetos interessantes, que levam o cinema a lugares do país onde jamais se imaginava, como São Francisco do Conde, onde nasceu minha família, no interior baiano. A arte não se desenvolve na informalidade e a institucionialização tem sido um instrumento relevante”, afirma.



A atriz pernambucana Hermila Guedes, de Cinema, aspirinas e urubus, de Marcelo Gomes, e O céu de Suely, de Karim Aïnouz, entre outros longas, participou também dos especiais de TV como Por toda minha vida e da série Força tarefa, da Rede Globo, além de produções no teatro (A duquesa dos cajus, de João Ferreira e Noite feliz, de Carlos Reis e Lúcio Lombardi). Ela concorda com o amigo Lázaro Ramos e acrescenta que, quanto mais o cinema nacional se desenvolve, maiores são as demandas e os desafios a serem enfrentados por todos. “Tratar dessas questões de forma coletiva ajuda a pensar soluções para as dificuldades. É importante e necessário ter consciência disso”, argumenta.



Fórum



Diretor-executivo do Fórum dos Festivais, que reúne dezenas de entidades e artistas nesta segunda, em Tiradentes, para discutir questões relativas ao setor, fazer balanço das ações realizadas em 2009 e estabelecer metas para este ano, Antônio Leal aponta conquista importante com relação à reforma da Lei Rouanet, proposta pelo Ministério da Cultura. “O novo texto, sugerido pelo governo, em março do ano passado, não contemplava festivais, cineclubes, atividades de formação, preservação, games, novas mídias e tudo o que diz respeito ao cinema não-comercial. Foi o Fórum dos Festivais que identificou essa falha. Passamos meses nos mobilizando, discutindo com o Ministério e essa articulação teve por consequência a criação do Fundo Setorial de Incentivo à Inovação e à Cultura Audiovisual”, afirma o diretor. Há poucos dias, o governo federal assegurou que serão destinados recursos que podem chegar a R$ 100 milhões para esse fim, especificamente.



Com essa resolução, explica Leal, espera-se garantir a continuidade de trabalhos já iniciados e implementar outras ações necessárias para a consolidação do cinema brasileiro. A criação do fundo representa para o coletivo o “esforço que vale a pena”, já que a dedicação voluntária nas reuniões converteu-se em benefício para todos. Outros temas serão contemplados no debate de hoje promovido pela mostra, como a criação de certificado de qualidade, a ser conferido pelo Fórum dos Festivais. O grupo também comemora uma década de atuação institucional. “Nosso balanço é muito positivo. Nestes 10 anos, crescemos com qualidade, motivamos reflexões relevantes, mantivemos o debate em torno das principais questões relativas ao cinema nacional e preservamos circuito com mais de 200 festivais, que são tão diversos quanto a cultura”, avalia Antônio Leal.



Nesta terça, a Mostra de Cinema de Tiradentes promove Encontro Nacional da Associação Brasileira de Preservação Audiovisual, no qual será elaborada a Carta de Tiradentes 2010. Haverá também discussão de temas como função social da entidade, estratégias institucionais e sugestões para a programação do Encontro Nacional de Acervos e Arquivos Audiovisuais para a 5ª Mostra de Cinema de Ouro Preto.



Sem fronteiras



O documentário Terras, de Maya Da-Rin, tem pré-estreia hoje, às 19h30, no Cine Tenda. O filme trata da reformulação dos espaços geográficos e a relativização das fronteiras, com o advento da internet. A diretora carioca busca a relação entre estes dois ambientes e seus reflexos no cotidiano.


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