segunda-feira, 6 de junho de 2011

Quebrando o tabu enfrenta com coragem a questão das drogas


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Quebrando o tabu
, filme de Fernando Grostein Andrade, cumpre o que o título promete e avança sobre assunto sobre o qual existe problemático silêncio: os argumentos que defendem a descriminalização do uso de drogas. E o faz basicamente com personalidades da política (os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, do Brasil, e Jimmy Carter e Bill Clinton, dos Estados Unidos) e autoridades ligadas ao tema da saúde pública (como Dráuzio Varella e coordenadores de programas na área de vários países). Traz ainda personalidades das artes, como o escritor Paulo Coelho. Oferece informação sobre o tema, desde linha do tempo mostrando que as drogas acompanham a humanidade até alguns perfis de usuários.

A guerra às drogas – política criada há 40 anos pelo presidente americano Richard Nixon e mantida até hoje em vários países – fracassou, de acordo com os entrevistados no filme. É política que – como ocorreu com a Lei Seca, dos anos 1920, que queria banir a comercialização de bebidas alcoólicas nos EUA – criou mercado ilegal, que levou ao aumento do uso de drogas, mortes, violência, criminalidade e corrupção das instituições. Os depoimentos ouvidos no filme propõem alternativas no enfrentamento da questão das drogas, como ações preventivas e penalização em vez da atual criminalização. Restrições à maconha, como são feitas ao álcool e ao tabaco, por exemplo. Ações visando redução de danos e incentivo ao tratamento, sobretudo no que se refere a drogas como a cocaína, a heroína e as anfetaminas.

As primeiras sessões do filme atraíram poucos espectadores em Belo Horizonte, ainda que todos eles interessados no tema do documentário. Curiosamente, vários eram advogados. Como Luciana Araújo, de 34 anos: “O filme apresenta pontos de vista interessantes, cuja tendência é a descriminalização, mas buscando reflexão. O que é importantíssimo, já que está em discussão problema que está dentro da casa de todos”. Para ela, o uso de drogas não é uma questão isolada: “Precisamos de uma política pública para o assunto”, afirma. Para a advogada, Quebrando o tabu devia ser exibido para adolescentes, já que há no filme material que pode ser trabalhado didaticamente com os mais jovens.

Kênio Nascimento, de 35 anos, também advogado, gostou do filme por mostrar que o usuário não deve ser tratado como criminoso. “Quem acaba preso, algumas vezes, são amigos nossos, que não são bandidos”, observa. Considera que trata-se de discussão que vai enfrentar resistências, já que há ideias muitos enraizadas que defendem que a descriminalização vai ser prêmio para o tráfico. Sentiu falta de informações sobre quem controlaria a venda de drogas com a descriminalização. “É preciso pensar com coragem no que o filme está dizendo e mostrando”, diz

Outros países

O casal de advogados Leonardo e Fernanda Duarte, de 43 e 34 anos respectivamente, assistiu ao filme na sessão das 17h de sexta-feira. Para Leonardo, Fernando Henrique Cardoso, Paulo Coelho e os outros nomes reunidos no documentário merecem elogios por trazer à sociedade discussão importante. “E oferecem informação sobre aspectos que as pessoas têm pouco conhecimento”, acrescenta, observando que é utopia falar em erradicação total das drogas. “E se acabassem com todas, o ser humano inventava outra”, provoca. Todos os advogados ouvidos consideram que é hora de discutir a descriminalização. Elogiam ainda o fato de mostrar como diferentes países vêm enfrentando a questão das drogas.

“É filme bonitinho, mas inocente e um pouco superficial”, afirma a jornalista Gabriela Godói, de 28 anos. “É válido por dizer verdades que deviam ser óbvias, mas não são, e por fazer com que a descriminalização deixe de ser tabu”, acrescenta. Ela observa que a questão é mais profunda do que mostrada o filme. “É debate importante, mas que chega atrasado diante do que pode ser encontrado na internet sobre pessoas que estão pensando o assunto com mais profundidade”, garante o aposentado Márcio Ferreira, 62 anos.

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