segunda-feira, 11 de julho de 2011

Cápsulas de pequi chegam ao mercado para prevenir doenças do coração


...

Fruto símbolo do cerrado, o pequi garante o sustento de milhares em vários municípios do Norte de Minas. Alguns dizem que tem poder afrodisíaco. Mas, foi provado cientificamente que a importância do pequi vai além de matar a fome do sertanejo: tem propriedades que ajudam a prevenir doenças do coração. Depois de 10 anos de pesquisas, o biólogo César Koppe Grisolia, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (UnB), desenvolveu um produto com efeitos fitoterápicos do pequi, que ajuda a evitar a formação de placas de gordura nos vasos sanguíneos, combatendo o colesterol e diminuindo o risco de problemas cardíacos. O produto, que será vendido em forma de cápsulas, deve chegar ao mercado no próximo ano.

A pesquisa do biólogo da sobre as propriedades do pequi (Caryocar Brasiliense”) na redução de problemas cardíacos está na lista dos trabalhos que apresentados durante a 63ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para Progresso da Ciência (SBPC), que começa hoje vai até sexta-feira, na Universidade Federal de Goias, em Goiânia. A reunião tem como tema central “cerrado, energia e alimento” e vai discutir as ações para proteger o bioma, debatendo também suas potencialidades.O pesquisador ressalta que, primeiramente, avaliou os efeitos do pequi na prevenção de doenças do coração em camundongos. Depois, realizou testes em 125 voluntários, durante dois anos. Ele lembra que o pequi é um alimento altamente rico em vitaminas A e C, frutose, sais minerais e compostos antioxidantes,que capturam radicais livres, moléculas novas formadas nos organismos. “Tem propriedades que melhoram as funções cardiovasculares porque ajudam o colesterol bom (HDL) e combatem o colesterol ruim, o LDL” “Para que as pessoas possam fazer uso de suaspropriedades, desenvolvemos cápsulas de extrato da polpa e outras de óleo de pequi”.

Esse trabalho rendeu uma patente para a UnB. Foi firmado Termo de Cooperação Técnica para otimização da tecnologia e para adaptação em escala industrial. O próximo passo será a celebração do Contrato de Licenciamento da Tecnologia”, observa o pesquisador da UnB, lembrando, que, está sendo providenciado o registro das cápsulas de pequi junto à AgênciaNacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Tecnicamente o novo produto é enquadrado na categoria dos nutracêuticos, algo que, grosso modo, se situa entre um alimento e um remédio. Teoricamente, eles nutrem e trazem saúde. “É um produto que incrementa as funções fisiológicas, revigorante e que vai além de um alimento”, explica Grisolia. “O que desenvolvemos tem tanto propriedadesnutracêuticas como fitoterápicas, mas vamos registrar na Anvisa apenas na primeira categoria, porque o processo é mais simples e barato”, diz o biólogo.Por outro lado, o pesquisador admite que as pessoas que têm o hábito de “roer pequi”, como os moradores dos pequenos municípios do Norte de Minas, podem ficar menos propícias a desenvolver doenças cardíacas, por conta dos efeitos do fruto símbolo do cerrado. “Tanto o óleo como o extrato do pequi possuem substancias com capacidade antioxidante, que inibem a oxidação dos lipídios nos vasos sanguineos, e com isso, combatem a formação de placas de gordura nas paredes dos vasos”, acentua.O produto obtido a partir do pequi já rendeu mais de 10 artigos científicos sobre o assunto.A pesquisa serviu também para destacar a importância da preservação do cerrado, bioma que está tão ameaçado quanto a Amazônia. Grisolia criou um modelo de exploração sustentável, com geração de mão-de-obra e renda para as comunidades rurais da região. “Meu trabalho ostra que o cerrado preservado é economicamente importante Para quem acha que pesquisa só é importante quando se consegue um ganho econômico, fizemos isso. Mas para outros, manter a biodiversidade é uma questão de respeito às outras formas de vida".

PRESERVAÇÃO DO BIOMA

A escolha do cerrado como principal tema de discussões da 63ª Reunião Anual da SBPC deverá suscitar uma série propostas para a preservação do bioma, que está seriamente ameaçado pelos desmatamentos. Esta é a perspectativa de ambientalistas, técnicos e pesquisadores que vão participar do encontro. A direção da SBPC ressalta que escolha do cerrado como tema do seu principal encontro anual não foi por acaso. O bioma está presente em mais de dois milhões de quilômetros quadrados (24%) do território nacional. É encontrado no Planalto Central, nas regiões centro-oeste, nordeste, norte e sudeste, ocupando mais de 40% do território mineiro.Trata-se da segunda maior formação vegetal brasileira (a primeira é a Amazônia) e a savana tropical mais rica do mundo em diversidade de espécies. É ainda o berço de nascentes de importantes rios como Tocantins-Araguaia, Paraná, São Francisco, sendo considerado área de recarga nacional. Além disso, o cerrado concentra um terço da biodiversidade nacional e 5% da flora e da fauna mundiais conhecidas. No entanto devido à alta pressão antrópica, registra-se grandes perdas da biodiversidade, com preocupantes índices de extinção de espécies animais e vegetais.“Acredito durante a reunião da SBPC, deverá surgir um conjunto de denúncias concretas sobre o mau uso da terra, ocupação desordenada e os impactos dessa ocupação no cerrado no futuro, acabando com a águ que vem do subsolo e matando os rios. Será feito um alerta ao país sobre a destruição do cerrado”, afirma o professor e pesquisador Elimar Pinheiro, do Centro de Desenvolvimento Sustentável, da Universidade de Brasília (UnB).

REUNIÃO DA SPBC

A Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência é um dos maiores eventos científicos do País. É realizada desde 1948, com a participação de autoridades, gestores do sistema nacional de ciência e tecnologia e representantes de sociedades científicas. O encontro serve para medir e difundir os avanços da ciência nas diversas áreas do conhecimento, sendo também um fórum de debate de políticas das públicas para a ciência e tecnologia.

FRUTO SÍMBOLO DO CERRADO

O pequizeiro é verificado ao longo de todo bioma cerrado. Como outras espécies do bioma, é uma árvore frondosa e tortuosa. Com grande poder de resistência ao clima de poucas chuvas, ela floresce entre os meses de agosto a novembro. A safra vai de novembro a fevereiro. Nesse período, o pequi proporciona uma verdadeira fartura nos municípios do Norte de Minas como Montes Claros, Mirabela, Coração de Jesus, Lontra, Brasília de Minas e Japonvar. Nesses lugares, famílias inteiras – homens, mulheres e crianças – se dedicam à cata do fruto símbolo do cerrado no mato.

...

Nenhum comentário:

Esquerda ou Direita?? Qual o melhor caminho?

  Dizem que tudo ou quase tudo tem dois lados, e na vida política de uma nação não seria diferente, sendo que cada país, cada continente t...