Jogador marcou o tento da vitória da Seleção Mineira sobre o River Plate, em 1965
José Alberto Bougleux, conhecido como Buglê, carrega a honra de ser o
primeiro jogador a marcar um gol no Mineirão, em 5 de setembro de 1965.
Personagem marcado na história do estádio, atualmente ele leva uma vida
modesta em Brasília, onde recebe salário mínimo por aposentadoria e cria
alguns animais em uma chácara. Em entrevista para o Superesportes, o ex-atleta confessou que, à época, não tinha noção que aquele momento teria tanta repercussão em sua trajetória.
“Não
sabia que esse gol iria repercutir tanto na minha vida. Fiquei bastante
emocionado. Depois do jogo, a torcida me carregou no hall. Fizeram até
uma placa para mim, mas muitos anos depois”, comenta Buglê.
O gol
histórico aconteceu na partida entre Seleção Mineira (combinado de
Atlético, Cruzeiro e América) contra o River Plate. O ex-jogador guarda
na memória os detalhes do lance.
“Eu tinha 19 anos e a jogada
começou com uma bola que roubei na intermediária. O nosso esquema era
4-2-4, e aproveitei que o Dirceu Lopes estava perto e nós tabelamos até a
área do River. No último passe dele, a bola foi esticada e tive que
dividir com o goleiro. Acabou que, quando olhei, a bola sobrou livre
para mim e só tive que empurrar para as redes”, conta.
Esqueceram de mim
A reinauguração do Mineirão no 21 de dezembro promete ser uma grande
festa para o torcedor. Com visitação aberta ao público e show da banda Jota Quest,
os organizadores prometem empolgar os presentes. Porém, parte marcante
do passado no estádio, o ex-jogador lamenta o fato de não ter sido
convidado.
“Não me mandaram convite nenhum. Estou aguardando. Até
lá, espero que eles me chamem. Eu não estava nem sabendo da
reinauguração. Fiquei sabendo por você”, revela Buglê.
Com
frustração por ter sido esquecido, o aposentado compara a situação atual
com um filme comum no início dos anos 90. “Tenho uma história no
Mineirão que conta muito, mas parece que não para todos . Estou me
sentindo como o personagem daquele filme: Esqueceram de Mim”, completa.
Sobre
a partida inaugural entre os arquirrivais mineiros, no dia 3 de
fevereiro de 2013, ele revela que gostaria de ver a outro confronto.
“Eu
acho que pela grandeza do Mineirão, tinha que ser a Seleção Brasileira
em campo. Também poderia ser um misto de Atlético e Cruzeiro contra o
Barcelona”, ressalta.
Início no futebol
Exaltado como primeiro jogador a fazer um gol no Mineirão, o ex-volante
Buglê teve um início promissor no Atlético. Em poucos meses, ele saiu
das categorias de base e ficou três anos no profissional. Porém, a
primeira ligação dele com o esporte foi no futebol de salão do Cruzeiro.
“Minha primeira experiência foi no salão. Joguei com Tostão,
Ronaldo Drumond e outros. O Cruzeiro tinha uma equipe forte no Barro
Preto. Depois, me convidaram para ir para o júnior do Atlético. Em pouco
tempo, eu era titular. Sai do Galo ao ser envolvido em uma troca pelo
Oldair, que fez parte do time campeão em 1971. Passei oito anos com a
camisa do Vasco da Gama, além de um período no Santos”, disse.
Em
campo no primeiro clássico entre Atlético e Cruzeiro no Mineirão, Buglê
admitiu que ficou nervoso durante a partida. Segundo ele, a atuação do
árbitro, que marcou um pênalti inexistente para o time celeste, causou a
ira dos jogadores alvinegros.
“Participei desse primeiro jogo
entre os rivais e fui expulso. Teve um pênalti que foi fora da área, que
o árbitro Juan de La Passion, não esqueço esse nome, pois muitos diziam
que era cruzeirense, deu dentro da área. Houve uma briga geral e fui
expulso. Eu era um dos mais nervosos”, relembra.
O lance
aconteceu aos 34 minutos do segundo tempo, quando o Cruzeiro vencia por 1
a 0. A jogada causou tamanha revolta que nove jogadores do Atlético
foram expulsos. O jogo foi realizado no dia 24 de outubro de 1965, e a
Raposa venceu pela diferença mínima, com gol de Tostão.
Vida simples
Presente
nos gramados numa época em que o futebol profissional não pagava
salários elevados para os atletas, Buglê leva uma vida simples no
Distrito Federal. Morador da capital do país há 25 anos, ele é dono de
uma chácara, onde cria bois e vacas, e relata as dificuldades que alguns
jogadores antigos enfrentam.
“Eu aposentei por idade e tenho uma
chácara em Brasília. Ganho o meu salário mínimo e mexo com vaca e boi,
que eu gosto de fazer. Hoje (o salário dos jogadores) é uma aberração.
Eu joguei 13 anos e teria uma vida muito mais tranquila se fosse nos
dias atuais”, lamenta
Depois de abandonar o futebol, em 1974, com a camisa do Vasco, o
ex-jogador encontrou em Taguatinga, cidade satélite de Brasília, uma
oportunidade de trabalho. Porém, ele critica algumas situações
observadas nos anos em que passou pelo setor público.
“Estou em
Brasília há muitos anos. Trabalhei na administração pública de
Taguatinga, na parte de obras, mas nunca me aproveitaram na área de
esportes. O meu defeito aqui é que não sei roubar”, afirma.
O
planejamento do esporte local também foi alvo de análise do ex-atleta.
“O futebol aqui é muito fraco. Eles preferem trabalhar com jogadores
velhos, do que investir na base. Eu não concordo com certas coisas”,
revela.
FICHA TÉCNICA DO PRIMEIRO JOGO:
MINAS GERAIS 1 X 0 RIVER PLATE
DATA: 05/09/1965
MOTIVO: Amistoso
PÚBLICO: 73.201
RENDA: Cr$82.792.265
JUIZ: Antônio Viug
AUXILIARES: Joaquim Gonçalves (MG) e Luis Pereira Filho (MG)
MINAS GERAIS
MINAS GERAIS
Fábio;
Canindé, Grapete, Bueno e Décio Teixeira; Buglê e Dirceu Lopes; Wilson
Almeida (Geraldo depois Noventa), Silvestre (Jair Bala), Tostão e Tião.
TÉCNICO: Gérson dos Santos
RIVER PLATE:
RIVER PLATE:
Gatti; Sainz, Ramos Delgado, Grispo e Matosas; Capp (Viveica) e Sarnari; Cubilla (Sollares), Artime (Lallana), Delém e Más.
TÉCNICO: Jose Curti
GOL: Buglê - aos dois minutos do 2º tempo, para Seleção de Minas Gerais.
CARTÕES: Cartão vermelho Tião (Minas Gerais) e Sarnari (River Plate)
(Fonte: Ademg)
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