terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Autor do primeiro gol do Mineirão, Buglê leva uma vida modesta em Brasília

Jogador marcou o tento da vitória da Seleção Mineira sobre o River Plate, em 1965

José Alberto Bougleux, conhecido como Buglê, carrega a honra de ser o primeiro jogador a marcar um gol no Mineirão, em 5 de setembro de 1965. Personagem marcado na história do estádio, atualmente ele leva uma vida modesta em Brasília, onde recebe salário mínimo por aposentadoria e cria alguns animais em uma chácara. Em entrevista para o Superesportes, o ex-atleta confessou que, à época, não tinha noção que aquele momento teria tanta repercussão em sua trajetória.

“Não sabia que esse gol iria repercutir tanto na minha vida. Fiquei bastante emocionado. Depois do jogo, a torcida me carregou no hall. Fizeram até uma placa para mim, mas muitos anos depois”, comenta Buglê.

O gol histórico aconteceu na partida entre Seleção Mineira (combinado de Atlético, Cruzeiro e América) contra o River Plate. O ex-jogador guarda na memória os detalhes do lance.

“Eu tinha 19 anos e a jogada começou com uma bola que roubei na intermediária. O nosso esquema era 4-2-4, e aproveitei que o Dirceu Lopes estava perto e nós tabelamos até a área do River. No último passe dele, a bola foi esticada e tive que dividir com o goleiro. Acabou que, quando olhei, a bola sobrou livre para mim e só tive que empurrar para as redes”, conta.

Esqueceram de mim

A reinauguração do Mineirão no 21 de dezembro promete ser uma grande festa para o torcedor. Com visitação aberta ao público e show da banda Jota Quest, os organizadores prometem empolgar os presentes. Porém, parte marcante do passado no estádio, o ex-jogador lamenta o fato de não ter sido convidado.

“Não me mandaram convite nenhum. Estou aguardando. Até lá, espero que eles me chamem. Eu não estava nem sabendo da reinauguração. Fiquei sabendo por você”, revela Buglê.

Com frustração por ter sido esquecido, o aposentado compara a situação atual com um filme comum no início dos anos 90. “Tenho uma história no Mineirão que conta muito, mas parece que não para todos . Estou me sentindo como o personagem daquele filme: Esqueceram de Mim”, completa.

Sobre a partida inaugural entre os arquirrivais mineiros, no dia 3 de fevereiro de 2013, ele revela que gostaria de ver a outro confronto.

“Eu acho que pela grandeza do Mineirão, tinha que ser a Seleção Brasileira em campo. Também poderia ser um misto de Atlético e Cruzeiro contra o Barcelona”, ressalta.

Início no futebol

Exaltado como primeiro jogador a fazer um gol no Mineirão, o ex-volante Buglê teve um início promissor no Atlético. Em poucos meses, ele saiu das categorias de base e ficou três anos no profissional. Porém, a primeira ligação dele com o esporte foi no futebol de salão do Cruzeiro.

“Minha primeira experiência foi no salão. Joguei com Tostão, Ronaldo Drumond e outros. O Cruzeiro tinha uma equipe forte no Barro Preto. Depois, me convidaram para ir para o júnior do Atlético. Em pouco tempo, eu era titular. Sai do Galo ao ser envolvido em uma troca pelo Oldair, que fez parte do time campeão em 1971. Passei oito anos com a camisa do Vasco da Gama, além de um período no Santos”, disse.

Em campo no primeiro clássico entre Atlético e Cruzeiro no Mineirão, Buglê admitiu que ficou nervoso durante a partida. Segundo ele, a atuação do árbitro, que marcou um pênalti inexistente para o time celeste, causou a ira dos jogadores alvinegros.

“Participei desse primeiro jogo entre os rivais e fui expulso. Teve um pênalti que foi fora da área, que o árbitro Juan de La Passion, não esqueço esse nome, pois muitos diziam que era cruzeirense, deu dentro da área. Houve uma briga geral e fui expulso. Eu era um dos mais nervosos”, relembra.

O lance aconteceu aos 34 minutos do segundo tempo, quando o Cruzeiro vencia por 1 a 0. A jogada causou tamanha revolta que nove jogadores do Atlético foram expulsos. O jogo foi realizado no dia 24 de outubro de 1965, e a Raposa venceu pela diferença mínima, com gol de Tostão.

Vida simples
Presente nos gramados numa época em que o futebol profissional não pagava salários elevados para os atletas, Buglê leva uma vida simples no Distrito Federal. Morador da capital do país há 25 anos, ele é dono de uma chácara, onde cria bois e vacas, e relata as dificuldades que alguns jogadores antigos enfrentam.

“Eu aposentei por idade e tenho uma chácara em Brasília. Ganho o meu salário mínimo e mexo com vaca e boi, que eu gosto de fazer. Hoje (o salário dos jogadores) é uma aberração. Eu joguei 13 anos e teria uma vida muito mais tranquila se fosse nos dias atuais”, lamenta

Depois de abandonar o futebol, em 1974, com a camisa do Vasco, o ex-jogador encontrou em Taguatinga, cidade satélite de Brasília, uma oportunidade de trabalho. Porém, ele critica algumas situações observadas nos anos em que passou pelo setor público.

“Estou em Brasília há muitos anos. Trabalhei na administração pública de Taguatinga, na parte de obras, mas nunca me aproveitaram na área de esportes. O meu defeito aqui é que não sei roubar”, afirma.

O planejamento do esporte local também foi alvo de análise do ex-atleta. “O futebol aqui é muito fraco. Eles preferem trabalhar com jogadores velhos, do que investir na base. Eu não concordo com certas coisas”, revela.

FICHA TÉCNICA DO PRIMEIRO JOGO:

MINAS GERAIS 1 X 0 RIVER PLATE

DATA: 05/09/1965
MOTIVO: Amistoso
PÚBLICO: 73.201
RENDA: Cr$82.792.265
JUIZ: Antônio Viug
AUXILIARES: Joaquim Gonçalves (MG) e Luis Pereira Filho (MG)

MINAS GERAIS
Fábio; Canindé, Grapete, Bueno e Décio Teixeira; Buglê e Dirceu Lopes; Wilson Almeida (Geraldo depois Noventa), Silvestre (Jair Bala), Tostão e Tião.
TÉCNICO: Gérson dos Santos

RIVER PLATE
:
Gatti; Sainz, Ramos Delgado, Grispo e Matosas; Capp (Viveica) e Sarnari; Cubilla (Sollares), Artime (Lallana), Delém e Más.
TÉCNICO: Jose Curti 

GOL: Buglê - aos dois minutos do 2º tempo, para Seleção de Minas Gerais.

CARTÕES: Cartão vermelho Tião (Minas Gerais) e Sarnari (River Plate)




(Fonte: Ademg)

 

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