segunda-feira, 17 de junho de 2013

O melhor de Mazzaropi: O caipira que riu por último

Festival exibe documentário que relembra trajetória de Mazzaropi, um dos maiores ícones do cinema nacional


Ouro Preto. “Batem em mim, mas aposto que depois que eu morrer, vão fazer um monte de festivais e homenagens ao meu trabalho”. A frase de Amácio Mazzaropi, resgatada no fim do documentário que leva seu nome, foi premonitória e certeira, assim como toda a carreira do comediante malhado pela crítica e amado pelo público. Dois dias depois de sua morte em 1981, cinemas de arte em São Paulo faziam retrospectivas de sua filmografia.

Vinte anos mais tarde, em comemoração ao centenário de seu nascimento, em 1912, o crítico Celso Sabadin faz sua estreia na direção com o documentário “Mazzaropi”, que investiga como o filho de imigrantes italianos – que se mudou com os pais para Taubaté, São Paulo, aos dois anos de idade – tornou-se um dos homens de maior sucesso da história do cinema brasileiro. O longa já passou por festivais em Lisboa e Recife e foi exibido na noite de sábado na 8ª Mostra de Cinema de Ouro Preto, antes de estrear nacionalmente no segundo semestre.

Vindo da televisão, Sabadin traz ao documentário influências típicas do telejornalismo, como a utilização de várias enquetes que verificam se as pessoas hoje ainda lembram quem foi Mazzaropi. O comediante começou no cinema ainda nos anos 1950, levando sua caricatura do Jeca Tatu, sucesso no circo e na TV, para as produções da Vera Cruz. Com o fechamento do estúdio, ele abriria sua própria produtora, a PAM – Produções Amácio Mazzaropi – que realizaria, anualmente, um longa com o personagem, lançado religiosamente no Cine Art Palácio em São Paulo, no dia 25 de janeiro.

“Não queria fazer um googlementário”, afirma Celso Sabadin. Para evitar a mera compilação de dados já disponíveis online, endeusando o artista, o diretor reuniu uma série de personagens que realmente trabalharam com ele e construíram um retrato íntimo, e por vezes controverso, de Mazzaropi. Nomes como Hebe Camargo, Agnaldo Rayol,
David Cardoso, Ratinho e Ronnie Von compartilham suas memórias do comediante – desde o homem de negócios sovina, que enviava fiscais a entradas de cinema Brasil afora para verificar o número de ingressos vendidos, à homossexualidade que ele nunca escondeu dos funcionários e que o levou a dormir com vários dos galãs de seus filmes.

Afinidade. O curioso é que a busca do homem por trás do personagem acaba descobrindo que os dois tinham muito em comum. “O Mazzaropi foi o caipira certo na hora certa”, analisa Sabadin. O retrato da cultura do caipira feito em seus filmes – analisado por uma série de especialistas no início do documentário, em outra influência do telejornalismo – mostra como a carreira do comediante coincide com o boom do crescimento de São Paulo, que atraiu vários imigrantes do interior para a capital. “A saudade que eles sentiam de casa era suprida por produções como ‘O Noivo da Girafa’, ‘O Jeca e a Freira’ e ‘Casinha Pequenina’”, conta o diretor.

O preconceito contra esse Brasil “interiorano e atrasado” se somava ao que Celso cunha como a “histórica postura refratária da crítica nacional com relação à comédia”. O resultado é um cenário que repetia o acontecido com Oscarito e Grande Otelo nas chanchadas da Atlântida, passou pelos Trapalhões e acontece com as globochanchadas contemporâneas.

“A grande diferença é que a Globo tem toda uma estrutura de marketing e pesquisa. O Mazzaropi fez tudo sozinho, com base na sua intuição”, avalia o diretor. Além disso, o comediante era um sucesso com o público quando o cinema era algo realmente popular e TV era a coisa de rico. “O cinema naquela época custava dois dólares. Hoje custa 20 reais e, com pipoca, estacionamento e família, pode chegar a 100 reais. Que popular é esse?”, questiona o cineasta.

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