quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Duplicar rodovia não é garantia de queda no número de mortes

Na Fernão Dias, houve só mudança no tipo de acidente e redução tímida nos óbitos

A duplicação da BR–381 entre as cidades de Belo Horizonte e Governador Valadares pode não ser suficiente para retirar o título de Rodovia da Morte da estrada. É que a exemplo do que aconteceu na Fernão Dias (nome dado ao trecho da BR–381 entre Belo Horizonte e São Paulo, já duplicado), o projeto, em sua maioria, segue o traçado da pista atual, com a mesma sinuosidade. Conforme especialistas, a combinação entre essa característica e a imprudência dos motoristas pode até aumentar os acidentes, mudando apenas o tipo de colisão – deixando de ocorrer batidas frontais em erros de ultrapassagem para capotamentos e saídas de pista por excesso de velocidade.

Esse fenômeno aconteceu com a própria Fernão Dias. Ela teve um queda com relação ao índice de mortes, mas tímida, principalmente se levada em conta a expectativa criada pelo anúncio da duplicação. A comparação do trecho com o pedaço de pista simples mostra dados não muito animadores. Na Rodovia da Morte, a média é de 3,9 vítimas a cada 10 km de estrada. Já na Fernão Dias, essa média é de 3,1 mortes. Os dados são da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

A Fernão Dias continua tendo mais acidentes e feridos que o trecho da BR–381 ainda com pista simples. Em 2012, foram, em média, 160 acidentes a cada 10 km da Fernão Dias. Já no trecho em pista simples, essa média foi de 81 ocorrências, 50% menor. A parte com pista ainda sem duplicação também teve uma média de feridos por quilômetro inferior à da duplicada. Foram 56 feridos a cada 10 km no trecho contra 65 da Fernão Dias.

Na avaliação do professor de Planejamento de Transportes e Logística da Fundação Dom Cabral Paulo Resende, é quase um desperdício fazer a obra sem alteração do traçado com curvas. “Melhora a situação da rodovia, sim, mas, se é para fazer a obra, por que não fazer da melhor maneira e com a tecnologia mais avançada?”, avalia o especialista. Resende explica ainda que, com a pista melhor, aumenta a imprudência do motorista. “Os motoristas brasileiros tendem a correr mais em estradas melhores”, diz.

De fato há uma diferença nas ocorrências com mortes nos dois trechos da BR–381. Em 2012, foram 21 vítimas em batidas provocadas por erros de ultrapassagem no trecho em pista simples, já na parte duplicada, foi apenas uma morte dessa forma. Por outro lado, no caso de acidentes provocados por excesso de velocidade, foram 34 óbitos na chamada Rodovia da Morte contra 48 da Fernão Dias.

Alternativa. Uma saída para fazer da BR–381 uma estrada mais segura seria seguir o exemplo da rodovia Imigrantes, que liga São Paulo a Santos. A estrada conta com 44 viadutos, sete pontes e 14 túneis e é praticamente toda reta em seus 79 km de extensão. Assim, ela conta com um índice menor de letalidade nos acidentes (veja quadro ao lado).

Porém, o custo é mais alto. O preço por quilômetro da Imigrantes chega a ser quatro vezes mais alto. Por isso, o analista defende que a obra da 381 deveria ter sido feita pela iniciativa privada, que a exploraria economicamente depois, com a instalação de pedágios. “A Imigrantes foi viabilizada dessa forma. O problema é que em toda obra feita pelo poder público a lógica é a de quanto mais barato, melhor. Assim, a qualidade é menor”, diz Resende.


Variante reduziria o problema
Variante. No projeto inicial da BR–381 está prevista a construção da variante Santa Bárbara, que seria um novo traçado, em linha reta, ligando as cidades de São Gonçalo do Rio Abaixo a Nova Era.
Fora. O trecho ficou fora da primeira rodada de licitações e não tem data para publicação do edital.
A variante tem 38 km de trajeto novo e reduziria significativamente as curvas da rodovia.


Mais dois lotes prontos para obra
Foi publicado ontem no “Diário Oficial da União” o resultado da licitação para mais dois lotes de duplicação da BR–381. Os lotes 1 e 2, que vão de Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, até Jaguaraçu, no Vale do Aço, foram homologados depois do julgamento de recursos das empresas derrotadas, sem alterar o resultado.

Falta agora assinar as ordens de serviço para o início das obras – essa é a situação de sete dos 11 lotes da 381. Três terão que passar por nova concorrência, e outro espera julgamento do recurso.

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