terça-feira, 14 de maio de 2013

Operação labirinto da Lei Seca vai tomar conta de BH

Secretaria aprova megablitz que fechou todos os acessos ao Bairro de Lourdes no fim de semana. Barreiro, Pampulha e outros bairros da Zona Sul serão próximos alvos de ação quinzenal


Depois da primeira experiência no fim de semana no Bairro de Lourdes, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, a “operação labirinto” da Lei Seca passou no teste da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) e vai virar padrão na capital dos botecos. As regiões do Barreiro e Pampulha, além da Savassi e do Bairro São Bento, ambos na Região Centro-Sul, estão na lista das próximas ações. A cada 15 dias, um esquema especial contra a fuga de infratores será montado em locais de grande concentração de bares e restaurantes. Porém, a expansão ainda maior do modelo esbarra no número insuficiente de profissionais para esse tipo de fiscalização. Comerciantes se queixam do que consideram exagero da operação, que espantou pelo menos 30% dos clientes no fim de semana em Lourdes.

Adaptada de modelos usados no Rio de Janeiro, o intuito da operação é formar circuitos fechados com cones e cavaletes nas principais vias no entorno de área de concentração da boemia, eliminando rotas de fuga e forçando os veículos a passar obrigatoriamente pelas blitzes. A estratégia foi montada para pegar motoristas que se valem de ferramentas como o Twitter para escapar da fiscalização. “Fizemos um estudo que identificou esse problema. Ao cercar por todos os lados uma determinada área, mesmo sabendo da operação, possíveis infratores ficam ilhados”, afirma o subsecretário de Integração de Defesa Social, Daniel Malard.De acordo com ele, apesar de o projeto piloto ter ocorrido em Lourdes, a estratégia será aplicada em outros endereços. “O foco não é Lourdes, mas locais de concentração de bares, boates e restaurantes. Haverá blitzes no Barreiro, Pampulha, Savassi, São Bento. Vamos enumerar as regiões, para que a operação tenha eficácia”, afirma Malard. Mas a ampliação da estratégia, que ocorrerá a cada duas semanas, tropeça na falta de efetivo. “Faremos quinzenalmente, aos fins de semana. Com o efetivo atual, não conseguimos realizar operações desse porte em duas, três regiões ao mesmo tempo”, diz.

Da noite de sexta-feira até a madrugada de sábado, três blitzes foram montadas simultaneamente nas ruas Bárbara Heliodora, Santa Catarina e Rio de Janeiro, entre 21h30 e 3h da manhã. As vias pelas quais motoristas poderiam desviar para tentar fugir do bafômetro foram fechadas. Cerca de 60 agentes das polícias Civil e Militar, Guarda Municipal, Corpo de Bombeiros e BHTrans estavam envolvidos. Uma viatura com bafômetro também ficou disponível para abordar veículos que eram entregues a motoristas que haviam consumido álcool em ruas próximas. Em quase cinco horas de blitzes, 227 veículos foram abordados. Seis motoristas foram flagrados cometendo infração de trânsito por consumo de álcool. Quatro foram detidos por crime (mais de 0,34 miligrama de álcool por litro de ar expelido no bafômetro ou sinais evidentes de embriaguez), em uma operação que dividiu opiniões.

Quando o representante comercial João Campos, de 26 anos, chegou sexta-feira a Lourdes para encontrar os amigos em um bar, se deparou com um aparato de guerra. “Os carros de polícia estavam fechando as ruas. Era uma movimentação estranha e exagerada, pois interditaram todos os acessos do bairro”, afirma. Apesar dos excessos da operação, João, que assume que tinha a intenção de beber e dirigir no dia, considera que a blitz cumpriu o objetivo. “Minha namorada não bebeu e voltou dirigindo. Tenho amigos que voltaram de táxi, mas outros esperaram a blitz terminar”, conta.

Depois da experiência, o representante repensou o comportamento. “Essa operação me deixou em alerta, mas o problema é que ninguém pensa em alternativas para melhorar a oferta de ônibus e táxi”, critica. Estudante de medicina, Eduardo Barbosa, de 25, foi abordado na blitz da Santa Catarina depois de sair de um bar do Comida di Buteco no Santa Tereza e seguir para tomar um sorvete em Lourdes. “O trânsito estava horrível e passei 30 minutos no engarrafamento no bairro. Não havia bebido e soprei o bafômetro tranquilo. Só acho que foi um pouco assustador, pelo aparato que eles montaram. Muitas pessoas acabam pagando pelos excessos de alguns”, afirma.

Os moradores contam que já pediam um rigor maior no bairro e torcem para que a blitz se repita. “Esperamos que ela ocorra sempre nos fins de semana, pois acreditamos ser uma boa lição à sociedade. BH tem que sentir o rigor no cumprimento da legislação”, afirma a presidente da Associação dos Moradores do Bairro de Lourdes (Pró-Lourdes), Lúcia Pinheiro Rocha, de 50 anos, metade deles vivendo no bairro. Presidente da Associação dos Moradores da Praça Marília de Dirceu e Adjacências (Amalou), Jeferson Rios ressalta que o sábado seguinte às blitzes foi de sossego. “Não havia carros importados acelerando no bairro. O trabalho foi bem feito”, ressalta.

Segundo o subsecretário, não há como fazer uma operação desse porte sem impactos. “Fazer uma blitz e não ter congestionamentos é impossível. Mas, com essa estrutura, evitamos que pessoas que beberam dirijam. Eles acabam ligando para alguém buscar o carro ou pegando um táxi”, diz Malard.

Ponto crítico

Você considera que a criação de supercircuitos de fiscalização deve virar padrão na cidade? 

José Aparecido Ribeiro, residente do Conselho Empresarial 
de Política Urbana da ACMinas

NÃO

“Ninguém é contra blitz para pegar os assassinos no trânsito, mas a operação foi desproporcional. As pessoas se depararam com um espetáculo cinematográfico inédito em BH. É inadmissível que o terror seja usado para constranger e levar à bancarrota muitos restaurantes. A atitude fugiu ao princípio da razoabilidade. Os restaurantes de Lourdes geram empregos, pagam impostos, funcionam na legalidade. Não podem conviver com tamanho disparate, sob pena de uma quebradeira sem precedentes.”

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