segunda-feira, 28 de maio de 2012

Senador Aécio Neves:Falso dilema



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Artigo do senador Aécio Neves para a Folha de S. Paulo

Fonte: Folha de S. Paulo 

A crise econômica que ameaça derreter a zona do euro vem se constituindo em terreno fértil para a propagação de confrontos inúteis, como o que, neste momento, opõe os adeptos da austeridade e os do crescimento econômico.

Em certo nível, esse é um falso dilema que paralisa governos e retarda soluções. 
Falo por experiência própria, adquirida no enfrentamento da gravíssima crise que se abateu sobre o Estado de Minas Gerais em 2002.

A solução foi justamente aliar austeridade e crescimento. Com o apoio da sociedade organizada, o choque de gestão reduziu drasticamente os desperdícios e gastos com a máquina pública, ao mesmo tempo em que implantou inovações estimuladoras de parcerias e novos investimentos.

Recuperamos a capacidade do Estado de prover infraestrutura e melhorar a qualidade dos serviços essenciais, e assim crescemos quase sempre acima da média nacional, até o advento da nova crise. 
Sintetizo essa experiência para defender que, na lógica dos novos modelos de gestão, austeridade e crescimento são objetivos complementares. E que a sociedade estará sempre disposta a sacrifícios, desde que compartilhe os desafios e vislumbre as soluções.

Outra questão importante é recolocar a crise na perspectiva real do país. Definitivamente, não somos uma ilha de prosperidade. Os números do primeiro trimestre, com queda importante da atividade econômica e a redução da geração de empregos, confirmam a permanência do cenário de grande instabilidade e de novos riscos.

O desarranjo internacional alcança não só a Europa e os EUA, mas também a China, grande compradora do Brasil, que já dá os primeiros sinais de arrefecimento. 
Não devemos nos considerar eternamente em berço esplêndido e nem acreditar em soluções por geração espontânea. O cenário de relativa tranquilidade tem suas origens, como reconhecem dez entre dez analistas isentos, nas políticas e reformas estruturais realizadas nos anos 90, ainda sob a presidência de FHC.

De lá para cá, pouco fizemos para destravar o crescimento. Avançamos muito mais beneficiados pela conjuntura externa favorável e pela grande alta de preços das commodities do que pela superação das distorções internas de fundo.

A agenda não mudou: educação precária, mão de obra de baixa qualidade, altíssima carga tributária, juros abusivos, câmbio desequilibrado e investimento público insuficiente, que ignora os gargalos de infraestrutura e impõe custos exorbitantes à produção.

Lamentavelmente, a necessária agenda da competitividade só ganha fôlego e relevância sob o regime das crises e da emergência. Vencida a tormenta, volta a se reacomodar no elenco das grandes tarefas ainda por fazer.

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