terça-feira, 27 de novembro de 2012

Falta de fiscalização permite que motoristas privatizem vagas de rotativo em BH

Ter uma vaga de estacionamento privativa na rua e bem em frente ao local de trabalho pode parecer um sonho para quem circula quarteirões inteiros procurando um lugar onde parar o carro. Mas para pessoas como o comerciante Evaldo, de 45 anos, a vaga na Rua dos Goitacazes está garantida. Basta chegar cedo. Morador de Venda Nova, ele segue todos os dias para o Centro de Belo Horizonte e deixa o veículo na porta da loja. Lá, o automóvel fica o dia inteiro, sem talão de rotativo, apesar de a área ter limite de permanência de uma hora. “Nem me incomodo. A coisa é simples: faz dois anos que a fiscalização não multa. Antes, eu ficava com um talão de estacionamento no bolso (para usar em caso de os fiscais chegarem). Hoje, nem com isso me incomodo”, debocha.

Fiscalização ineficaz ou inexistente, abuso de flanelinhas, falta de civilidade e aumento da frota contribuem para uma realidade que o belo-horizontino já sentiu: a oferta de vagas na cidade caiu drasticamente. Segundo cálculos baseados em dados da BHTrans, desde 2008 pelo menos 6.385 vagas desapareceram só dentro do sistema de rotativo, o que equivale a 8% da oferta.

A BHTrans demarcou 20.906 vagas no rotativo. Cobrando R$ 2,90 por talão para garantir o revezamento de carros por uma, duas ou cinco horas, dependendo do local, a receita gerada foi de R$ 17,4 milhões no ano passado. Neste ano, já arrecadou 98% desse valor, chegando a R$ 17,1 milhões. Em um cenário de revezamento ideal, o sistema deveria possibilitar o estacionamento de 91.537 carros, ou média de 4,3 veículos por vaga, considerando a rotatividade. No entanto, segundo a BHTrans, o índice atual chega a 3,6 veículos por vaga, ou 76.636 automóveis estacionado por dia.

Como se trata de média, a conta leva em consideração a superlotação de áreas da Região Centro-Sul e a subutilização em algumas áreas de Venda Nova. Para ter uma exata noção da dificuldade pela qual passam belo-horizontinos que precisam estacionar e não encontram vagas, a equipe do Estado de Minas registrou a frequência de veículos nos estacionamentos de nove ruas da Região Centro-Sul, sendo seis delas na Savassi e Funcionários e três no Hipercentro. Nesses locais a falta de espaço disponível é dramática. Das 1.147 possibilidades de estacionamento abertas nas vagas ao longo desses dias, considerado o sistema de rotatividade, houve revezamento de apenas 623 automóveis. Uma taxa de 45,7% de ocupação irregular, ou seja, de veículos que ficaram parados além do tempo máximo e não deram oportunidade a outros motoristas de usar a vaga. Gente que, como o comerciante Evaldo, que deixa o carro o dia inteiro no rotativo sem ser incomodado pela fiscalização.

A pior situação foi verificada no Hipercentro, entre as ruas dos Goitacazes, dos Tupis e Goiás. Nesses trechos, 509 vagas possíveis ao longo do dia dentro do sistema de rotatividade comportaram apenas 237 automóveis – ocupação irregular de 53,5%. Na Savassi e no Funcionários, os quarteirões acompanhados pelo EM das ruas Professor Morais, Sergipe, Fernandes Tourinho, Tomé de Souza e Avenida Getúlio Vargas têm capacidade de receber 638 carros no período, mas registraram apenas 386, o que significa que 39,5% dos usuários ultrapassaram o tempo máximo de permanência no rotativo.

FILAS DUPLAS E GARAGEM BLOQUEADA

O resultado disso vai além do grande incômodo de parar o carro e do alto custo dos estacionamentos particulares: o reflexo pode ser observado no trânsito. “A infração ao rotativo é alta e por isso quem deveria ter uma oportunidade de estacionar começa a rodar pelos quarteirões, em baixa velocidade. A repercussão é direta em cada quarteirão e se espalha pela cidade, reduzindo a velocidade das vias”, avalia o engenheiro civil e especialista em transporte e trânsito Silvestre de Andrade Puty Filho.

Exemplos disso estão a cada esquina, onde filas duplas, bloqueios de garagens e paradas em locais proibidos se tornam cada vez mais frequentes. Cansada de dar voltas no quarteirão para buscar sua filha na Rua Sergipe, na Savassi, a professora Solange Bassalo, de 48 anos, se espremeu num espaço que sobrava da esquina e ligou o pisca-alerta. “Não tem vaga. Está a cada dia pior aqui na Savassi. A gente não quer atrapalhar o trânsito, mas não consegue nem parar um instante para buscar uma pessoa. Está tudo ocupado”, disse.

Apesar de a situação denunciar o colapso do sistema rotativo, a BHTrans considera o serviço bom. “A média do rotativo, de 3,6 carros por vaga, é boa. As oscilações diárias em horários de pico é que dão uma impressão de que falta lugar para estacionar”, avalia o gerente de Estacionamento Rotativo, Sérgio Rocha. A empresa informa que estuda ampliar neste ano o sistema para bairros como o Gutierrez, na Região Oeste da capital.

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