segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Chuva põe em perigo 2,5 mil casas em Belo Horizonte

Apesar da ameaça de enchentes e deslizamento, muitas famílias insistem em permanecer em locais críticos.


O barulho assustador da correnteza do Ribeirão Arrudas no fim da canalização de concreto e os alertas de inundação e desabamento da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec) não foram suficientes para convencer a dona de casa Sandra Izabel Florentina, de 35 anos, a deixar seu barraco, na Vila da Área. Na comunidade da Região Leste de BH, no fim da Avenida dos Andradas, 13 famílias que viviam à beira do Arrudas já tinham ido embora para casas de parentes ou para o abrigo municipal, mas ela relutava. “É difícil sair da nossa casa. Ainda mais porque tenho dois meninos pequenos, de 6 e 4 anos. A gente se acostuma com o perigo”, disse. 

Foi depois de estrondo seguido de tremor de terra que a vida da família de Sandra mudou, há duas semanas. As rochas que sustentavam a casa se partiram em blocos gigantes que rolaram ribeirão abaixo, deixando a moradia dependurada. Ela e os meninos escaparam por pouco largando às pressas a casa cheia de trincas. 

O drama de Sandra não é um caso isolado. São 56 famílias na lista da Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel) que precisam ser removidas. O Estado de Minas acompanhou a situação de quem não quer sair e constatou que as áreas de risco continuam a ser invadidas, apesar do perigo.

A estimativa da Urbel é de que cerca de 2,5 mil moradias na capital estejam em áreas de risco geológico, a maioria na Regional Centro-Sul. O último levantamento da companhia, de 2011, somava 2.761 moradias em regiões perigosas. A Vila da Área é uma delas. Segundo o laudo dos engenheiros da Urbel, na comunidade de 95 domicílios, 333 moradores ocupam um terreno de 15 mil metros quadrados “totalmente impróprio para habitação e que apresenta riscos de deslizamento de encosta e margem do ribeirão”. De acordo com o Diagnóstico da Situação de Áreas de Risco Geológico das Vilas e Favelas de BH, atualizado no fim de 2011, na comunidade existiam 24 edificações em situação de risco alto e muito alto.



Ainda assim, uma prima de Sandra, Luciana Martins Gomes, de 40, continua a morar com os três filhos, de 13, 14 e 15 anos. Vivem perto da margem do Arrudas que desabou e quase levou embora o barraco de Sandra, hoje demolido pela Urbel. “Quando chove muito, a água chega perto da nossa casa. Achava que as pedras iam segurar as casas, mas a força da água é muito grande. A gente passa as noites vigiando, com medo de ser levada pelo Arrudas. Nem fecho os olhos direito”, disse.

INVASÃO SEM MEDO 

O perigo e os casos de desabamento não intimidam todo mundo. Entre as favelas Vila Cafezal e Vila São Lucas, uma área que pertencia a uma antiga construtora vem sendo sistematicamente invadida há pelo menos 10 anos. Hoje, segundo as lideranças comunitárias do local, são 150 habitantes em pelo menos 50 casas, algumas delas dependuradas sobre barrancos de terra exposta com vários sinais de desabamento. Um dos mais engajados moradores do local é o pedreiro Maurício Nogueira de Souza, de 28 anos. Ele já promoveu inúmeras melhorias no terreno acidentado, na tentativa de evitar que sua casa seja levada num deslizamento de terras. 

“A Comdec informou que minha casa estava em risco iminente de desabamento, mas isso não é verdade. Estou trabalhando no morro para melhorar a segurança da casa. Não traria minha família para um local que não acho seguro. Além do mais, essa casa tem dinheiro, que economizei desde os 15 anos de idade”, conta. A última obra estrutural feita pelo pedreiro foi a construção de uma canaleta de cimento, pedras e sacos de entulho com 40 metros de extensão. A intervenção serve para escoar a água da chuva que poderia se acumular no topo do barranco sobre o qual ele construiu sua casa.



Descendo pela trilha estreita, por entre os barracos, chega-se às casas mais expostas no fundo do vale. Entre os moradores está o carpinteiro Lucivaldo do Nascimento, de 23, que ajuda os vizinhos numa criação de com mais de cem porcos. “A gente alimenta os animais com restos de comida de sacolões do Bairro Santa Efigênia (Região Leste). Por dia precisamos fazer seis viagens com a carroça puxada por cavalo ou burro”, disse Lucivaldo.

Os moradores da área admitem que invadiram o terreno. “Precisamos de lugar para morar. Não adianta a prefeitura vir aqui tirar a gente, porque vem outro para o mesmo lugar depois e faz outra casa. Se me tirarem faço tudo de novo no mesmo lugar”, afirma Maurício. A prefeitura não pode remover pessoas que vivem em áreas de risco, a não ser que suas habitações estejam condenadas pela Comdec. Segundo a Urbel, no período da estiagem foram feitas 72 obras em áreas de risco, que beneficiaram 250 famílias ameaçadas.

PREVISÃO As chuvas típicas de janeiro, com longa duração e intensidade constante, se tornam mais presentes a partir desta semana, de acordo com a previsão do 5º Distrito de Meteorologia. Alerta para as áreas de risco, uma vez que, segundo geólogos, esse tipo de precipitação é que encharca o solo e o torna mais suscetível a desabamentos.

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